quinta-feira, 24 de outubro de 2013

NA PIMENTA

Essa é a entrevista que podemos chamar de "entrevista ejaculação precoce". Foi uma rapidinha. Ela me enviou as perguntas, e eu prontamente fui respondendo. Sem revisar, sem ponderar, fui no instinto, assim como quem transa sem camisinha com uma desconhecida. Mas não sou desses. Sou um homem de família. Família das Piperáceas, é verdade, mas ainda assim, de uma família.
Por fim, foi bom pra mim ;)
Relaxa e gosta ?

terça-feira, 8 de outubro de 2013

MANIFESTO ANTROPOTRÁGICO (Narciso às avessas)

O feio te chama de feio e manda tu ser bonito
O gordo te grita de longe que gordo não é bonito
Pobre acredita que sucesso é ser rico
e que com dinheiro qualquer um é bonito
Pobre acha que pobre bom é pobre morto e nu
Gay riu que vc deu pinta e ri que todo mundo dá cu

O baixo se auto-rebaixou,
Frajola se autoflagelou
O alto-falante falou , vc acreditou
Não questionou, só decorou
O sujo falando do mal lavado
O banguela do desdentado

O índio Dakota do sul, sem terra, sem cota
flecha o negro com cota, sem teto, sem conta
O negro alvo desconta
no cara pálida mendigo delinquente Tarantino.
O branco
50% negro, 50% índio
Se acha o mais lindo
E todos vão indo
Se divertir num piquenique-genocídio

Manifesto "antropotrágico"
Americans are now
Hannibal Lecter de viadagem
churrasco na laje sem sal
em pleno carnaval

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ENTRE VISTA RE VISTA




01 - Só para relembrar ao público... Como você despertou que atuar era seu maior desejo? Como descobriu o seu talento de interpretar outras pessoas?

Se puder relembrar pra mim também seria útil (risos). Não creio que esse seja o meu maior desejo, eu acho que o que busco é defender ideias que acredito, ou divagações, que vão se metamorfoseando diariamente, tentar expressá-las de maneira criativa e provocar algo nos outros. Isso pode ser feito de diversas formas. Atuar é uma delas. Me dá muito prazer, mas não só ela. Escrever me dá esse prazer, compor, cantar, tocar, pintar, dançar, politizar, debater, conversar, enfim, muitas formas, tamanhos e posições.   Já tive até blog de quadrinhos. Chamava "umore nero" (em italiano, humor negro). Era horrível, mas eu adorava (risos). Autoterapia pura.
Em relação ao "talento" de interpretar outras pessoas, é uma dúvida perene que me cerca, e acho que deve ser assim com qualquer arte que eu venha desempenhar, pois a dúvida me faz buscar. Sou uma cara curioso e gosto de aprender. Não sei de fato o que seja atuar, e duvido quem diz saber claramente, pois não se trata de interpretar outra pessoa, pois ali não existe outra pessoa, existe uma, mas com milhões de referências e possibilidades de ser quem quiser ser, ou estar.




02 - Como se dá o processo de memorização dos textos? Alguma regra básica?

Sempre vai depender de cada processo e dos profissionais envolvidos. Penso que existem textos que não precisam ser reproduzidos Ipsis litteris. Entendemos a linha de raciocínio, guardamos a base, e é dito de uma forma que o ator-personagem vista-o melhor. "Azeitamos" o texto. É o que acontece, na maioria das vezes, em novela, que se trabalha com a "urgência". Já outros textos precisam, ou deveriam ser ditos "tal e qual", e aí, obviamente depois de compreendê-lo profundamente, o jeito é repetir, repetir, repetir exaustivamente. Esse é o meu processo. Chega um momento que não tem escapatória. É como se tocar um instrumento. Repetição, repetição, repetição puramente mecânica. Existe o primeiro momento intelectual, mas em algum momento teremos que passar pelo trabalho braçal. Pra mim o processo mais profundo, transformador, prazeroso e eficaz é quando nos tornamos co-autores do que é dito e feito ali, e quando o texto, depois de tantas discussões, leituras e ensaios, o apreendemos como que por osmose. Pode parecer estranho para um artista de palco, mas sempre tive muito mais prazer no processo de ensaio do que nas apresentações. 






03 - É frustrante para o ator quando o público não alcança a mensagem que você quer passar ou para você cumprindo seu dever e atuando da melhor forma já é satisfatório? Até que ponto a interação com o público te toca?

Eu só compreendo "interação" no teatro ou numa apresentação ao vivo. Essa influência recíproca de dois ou mais elementos só é possível ali, no presente, no momento em que ambos, público e platéia, estejam vivendo a mesma coisa no mesmo instante. Qualquer outro veículo tem o seu efeito retardado, e não o compreendo como interação. Quando alguém ouve um disco ou vê um filme o que está ali é a obra do artista, mas não o artista em si. Não tem como ele interagir.
Já em relação a alcançar ou não o público, antes de tudo teríamos que definir o que é "público". Quem é o "público"?. Tenho pensado nisso exaustivamente, e chego a certas conclusões que, devido a diversificação de mídias, meios, estéticas, hoje não existe mais "um público". Público seria só número de gente? É só isso que queremos dizer? Então é um trabalho matemático. Cheio ou vazio. Ibope alto ou baixo, ponto final. E aí, matematicamente vc define o seu "sucesso ou fracasso". Mas a mim interessa mais que isso. Me interessa saber se essa gente é cheia ou vazia, e isso não se tem resposta na matemática das coisas. Hoje podemos todos dizer mais claramente o que seria o "seu público". "Seu público" são aqueles que compartilham de suas ideias, ideais, que compreendem sua linguagem, mesmo que eventualmente discordem de uma coisa ou outra, mas a identificação é fundamental. Sei que quando diz público, está se referindo ao "grande público", o "público de massa", pois hoje estou ator de TV. Claro, a TV visa diretamente agradar o público, afinal ela é um mecanismo publicitário, e quando trabalho para a TV é isso que tento fazer. Essa é a minha função ali, mas em relação aos meus projetos eu não sei falar de público de massa. Não sei o que é isso fora de uma planilha. Compreendo público podendo ser uma, duas, três, dez, cem, mil, milhões de pessoas. A sua satisfação artística não vai mudar em nada, só sua conta bancária (risos). Está tão intrínseco na gente pensar que sucesso é sinônimo de casa cheia, vendas, etc...que faz com que algumas pessoas pensem, quando digo isso, que desprezo o público, que não quero minhas salas de teatro e cinema cheias, nem vender discos, e não é nada disso. Inegável que é prazeroso agradar o outro e ganhar dinheiro, afinal artista não vive de brisa, amor ou inspiração. Meu trabalho é sim, árduo e difícil. Requer tempo para maturação, dedicação, técnica e mais um monte de coisas que não se aprendem em uma universidade. Mereço receber um bom dinheiro por isso, mas não é só isso que me move. Parte desse pensamento é de um sistema educacional que desvaloriza as ciências humanas e a filosofia em prol do conhecimento exato e tecnológico. Eu apenas não faço meu trabalho pensando nos resultados numéricos. Acredito que o trabalho do artista também seja, eventualmente, "desagradar". Vc sempre estará desagradando uma parcela. Sempre! Eventualmente "frustar" o público pode significar trazer novidades, não se acomodar na mesmice, ou até mesmo mostrar-lhes algo que eles não tinham ou não queriam ver. Vc mesmo querendo "agradar" sempre irá desagradar alguém, e o inverso fatalmente também acontece. Desdizendo algumas estampas de camisetas: Nada, nunca, é 100% (risos). 
Definitivamente o que quero dizer é que não é o número de gente que irá definir pra mim se isso ou aquilo é sucesso ou não.






04 - Você parece ter um jeito peculiar de expor suas opiniões, às vezes ácido, às vezes sarcástico, mas sempre perspicaz e com doses de humor. Concorda? (risos)

Não falo inglês, mas falo acidez (risos). Eu tento falar com o "meu público". E quem é? Não sei, mas quero crer que sejam pessoas que entendem o que falo e onde pretendo chegar com o que digo e faço. Falar do sério brincando. Brincando seriamente. Usar o humor para mostrar o trágico, e o trágico para fazer humor. É pra ser agridoce. O mestre Domingos Oliveira me disse uma vez "Vc tem humor afiado. Não perca ele quando for falar das coisas". Humor é algo muito subjetivo. Pode ser engraçado pra um, e não pra outro. Aliás, virou moda agora que humor é só o que se faz rir. Não é! É importante que se diga que humor não comporta só "bom" humor. O "mau" humor é o seu complemento. Poesia não se faz somente falando de flores. É preciso meter a mão no esterco pra tirar palavras. Assim é com humor. Humor não é feito só pra gargalhar. Como poesia não é feita só pra ser linda e nem música só pra animar a festa. Tem vezes que não se ri, nem por isso deixa de ser humor. Nem toda rima é poesia, nem todo samba é pra dançar. Mania de falarem da arte apenas como algo belo, leve ou doce. Algo que serve apenas para "aliviar a vida dura". A arte deve também ser terrível quando solicitada. Quando o piá apronta, a mãe alerta: "-Já tá fazendo arte!". É isso! "Mães" temem a arte, por que arte é desobediente, incomoda. A arte ataca! Arte não é cordeiro, arte é predador! O Artista é um deformador de opinião. 






07 - Autoestima é tudo? Ou a opinião alheia tem lá sua importância?
Autoestima, autocrítica e automóvel: É preciso manter os 3 calibrados pra se manter equilibrado. Pronto, é um "provérbio chinês" que acabei de inventar (risos). 
Minha autocrítica é cruel. Nenhum crítico  ainda conseguiu ser pior comigo do que eu mesmo (risos). Claro que é preciso ter autoestima o suficiente para não se importar o tempo todo com os que os outros dizem, pois muitos querem o seu fracasso. Mesmo quem o ama, às vezes, sem perceber e sem maldade, quer o seu fracasso. Mas é preciso ponderar vez ou outra. Ouvir os amigos, colegas, os mestres, pra depois filtrar e aplicar o que vc tira disso, mas acima de tudo, ir onde vc deseja ir.






08 - Você passa uma imagem de que é muito seguro de sí. Verdade? E o que te tira do eixo?

Tudo fachada (risos). Eu sou tímido, mas me faço de sem-vergonha. Eu sou fofo, mas quero "manter minha fama de mau" (risos). Eu sou muito inseguro do que faço, e isso é muito importante pro meu ofício. Não trabalho com o que é exato. Eu falo do nada, do vazio. Tento explicar o inexplicável, ou melhor ainda, confundir ainda mais o explicável, por isso não posso ter certezas, aliás, costumo não me dar bem com pessoas que tem certeza das coisas, mas claro, preciso ter segurança o suficiente para expor o que acredito na minha arte. É como disse acima, equilíbrio, e não tenho nada de mestre zen, muito pelo contrário (risos). 
Já deu pra ver o que me tira do eixo. Meu ofício já é coisa suficiente para tirar dez vidas do eixo (risos). Na verdade sou ótimo na teoria de como viver bem, mas na prática ... Estou mais pra bêbado que pra equilibrista (risos)




09 - Em suas músicas você brinca com as palavras, com as combinações entre elas, com os duplos sentidos, com as possibilidades, dando a certeza que tem um domínio sobre a língua portuguesa. Essa habilidade vem de muito estudo? Leitura?
Aprendi lendo Leminski que palavra é brinquedo. Quando era jovenzinho debrucei muito nos concretistas e poetas contemporâneos. Daí vem esse vício maldito (risos). Essas brincadeiras com as palavras vem também da minha incompetência e desrespeito da língua. Por muitas vezes escrever a palavra de maneira "errada", como dita a regra da academia brasileira de letras, seja sem querer ou por ignorância mesmo, nos torna descobridores dela. Não saber o "certo", ou o que o academicismo nos entrega pronto como certo, por vezes nos trás outros desdobramentos. E outras vezes é preciso, mesmo sabendo, não se apegar a essas regras gramaticais, nessa ditadura do escrever "certo". Muitas vezes o mais interessante está no erro, no tropeço. Sou do time do Patativa do Assaré que dizia: " É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada".






10 - Você é do tipo que filosofa muito? Reflete sobre a vida, pessoas, coisas? Ou vai vivendo o momento sem pensar muito no depois?Essa entrevista já tá enorme...imagina se filosofo muito (risos). Mas, infelizmente pra mim, meus pensamentos filosóficos são de uma limitação intelectual gigantesca. Não fui, nem sou, um devorador de livros. Sou um feroz consumidor da sabedoria alheia. Todos os meus amigos são mais cultos, inteligentes e talentosos do que eu. Por hora sou um farsante, um plagiador, mediano, um medíocre, e às vezes, mesmo que muito esporadicamente, também consigo algo perto brilhante.




11 - Falando em provocação... quando você quer provocar uma mulher, que armas usa? Pode contar?
Jogar ela numa liquidação de sapatos sem cartão de crédito? (risos)
Sedução é um jogo, por isso vai depender de cada situação. É xadrez sem vencedor ou perdedor. É xadrez. Tem vezes que acaba mesmo na cadeia (risos).





12 - O que torna uma mulher encantadora aos seus olhos?
Nada melhor que um sorriso doce, singelo e sincero... Uma boa bunda e peitos são legais também (risos)


13 - E o que elas fazem que te provoca?
Existem. 


14 - O que não sabemos sobre as mulheres? Você já descobriu?
O que sei delas é que a mulher é um ser humano do sexo feminino. Se distingue do homem por ter útero, óvulo, canal vaginal, vulva e seios proeminentes. Apresentam em suas células somáticas um número par de cromossomos do tipo XX, gostam de bolsas, sapatos, chocolate, homens que "tem pegada", dar risada, acreditam em pesquisas, lêem "50 tons de cinza", sempre precisam perder uns 2 quilinhos, sonham em casar, ter filhos e se sentir protegidas. Esse é o pensamento do homem médio. É o que os homens quiseram e querem que elas pensem sobre elas mesmas, e o pior, eles conseguiram. Cabe a elas querer mudar isso, mas isso tem um preço. É alto e não se aceita cartão (risos). Salvo algumas raras exceções, as mulheres modernas continuam querendo homens antigos. É mais confortável. 
Ah, e sei também que elas vão odiar essa resposta (risos).



15 - Você passou 10 anos casado. Atualmente está namorando. O que é mais difícil em um relacionamento? Concorda que a rotina corrói uma relação?

"Vc quer casar?" Uma parcela da imprensa, que visa o público de massa, vive perguntando isso aos artistas. "Quer casar?". Que pergunta é essa? Seria o mesmo que perguntar "Quer esse carro?; "Quer viajar?; "Quer essa casa?". Sempre me sinto uma mulher virgem e indefesa do século XVII quando me perguntam isso. Já passou da hora de compreendermos o casamento como consequência e não como um objetivo. Talvez por isso seja muito casamento para pouco amor.
O mais difícil em um relacionamento é se relacionar (risos). Quando penso em relacionamento não é só o que entendemos e convencionamos como romântico-amoroso entre cônjuges. Nos relacionamos com qualquer pessoa ao nosso redor. Pai, mãe, irmão, amigo, colega, trabalho, escola, vizinho, clube, rua. É, inevitavelmente, ter que dividir espaço e ponto de vista, e isso é muito difícil. Quanto a "relação que corrói" tenho dúvidas se é a rotina ou o tempo. O tempo corrói tudo. Ferro, madeira, aço, pele, osso, plástico, até memória, e por que seria diferente com sentimentos? Temos dificuldade em aceitar o desgaste das coisas, os fins. O exemplo disso é a vida pós-morte. É necessário que pensemos que isso exista para que nos sintamos importantes. As coisas acabam, e deveríamos aceitar isso com naturalidade, mas não aceitamos.


16 - Depois dos 40 você ficou mais vaidoso? 

Depois dos 40 vc percebe o peso da responsabilidade. Esse peso varia de 3 a 6 quilos, e se concentra basicamente na faixa abdominal (risos). 
Tenho me percebido menos vaidoso depois dos 40 do que aos 20. Isso se deve ao fato, talvez, de que aos 40 vc se sinta menos cobrado por si mesmo que aos 20, afinal, já fez e já se provou muito. Em compensação, por esse mesmo motivo, vc pensa que já pode se achar no direito de ter mais respeito que pessoas de 20.
Eu estaria sendo hipócrita e patologicamente vaidoso se não me reconhecesse ainda bastante vaidoso. Os vaidosos odeiam ser descobertos vaidosos, só demonstram virtude, afinal é por isso que são estimados (risos). Não há nada que os vaidosos detestem mais do que serem considerados vaidosos. "Os vaidosos". Sempre tratamos como "eles" e nunca "nós". Eu nunca em minha vida presenciei uma pessoa com ausência total de vaidade, portanto, vou tratar como "nós, os vaidosos". Soube esse dias que a psicologia infantil tem incentivado aos pais a aplaudir e elogiar o cocô das suas crianças, para evitar que tenham futuramente problemas como prisão de ventre, e outros. Isso inclui falar que o cocô do "seu bebê" é lindão e cheiroso. Viu? Desde criança já precisamos do aplauso e do elogio para fazermos algo, mesmo que sejam aplausos falsos (risos). Já imagino todos aqueles desenhos de cocô feito pela criança e os pais pendurando com imã na geladeira. Pais elogiando merda dos filhos. Podemos aguardar muitos artistas dessa geração? (risos)
Nossa vaidade pode se encontrar em lugares pouco prováveis, como na feiura, por exemplo. Pessoas que enaltecem esse fato para serem vistas aos olhos dos outros como alguém que se importa pouco com a beleza, com a "parte externa", e por isso virtuosos. Ou o belo que pretende ficar feio sazonalmente para demonstrar aos outros que a beleza pra ele também não lhe é importante. É o caso do ator muito bonito, quando se faz feio num personagem. É preciso que notem ele feio, senão ele não chegou no seu objetivo de "desmerecer", perante os outros, a sua própria beleza e assim ser um virtuoso. É tudo falácia. Todos queremos ser chamados de bonito. Só o bonito quer ser reconhecidos como inteligente (risos). Fazer o bem, ser inteligente, promovido, ganhar dinheiro, ser interessante, tudo isso pra nós só é importante se for notado pelos outros. Ninguém é herói em segredo. Nós, os vaidosos, gostamos do aplauso, de prêmios e elogios. As redes sociais estão aí pra isso, para facilitar esse trabalho. Será que vão achar essa resposta genial? (risos)

 



17 - Depois de personagens tão diferentes, se sente satisfeito com a repercussão dos seus personagens? Tem se sentido realizado profissionalmente?
Como disse, tenho tido sorte na TV. Tenho pego bons personagens, mas sempre esperamos ir além, transcender, ir para lugares ainda inabitados conscientemente por nós. Ainda falta muito pra que eu me sinta realizado como ator de uma maneira geral.



18 - Depois das novelas, volta para a música? Quais seus planos para a carreira de cantor?
Eu não volto pra música pois nunca deixei de fazer música. Lancei disco, músicas, clipes, fiz shows, e fim do ano lanço o filme-DVD sobre meu último cd, VENDO AMOR. 
As pessoas tem necessidade de colocar as coisas em locais separados nas "prateleiras" para que elas consigam entender e nomeá-las. É como quando perguntam "- Que tipo de música vc faz?". A vontade é dizer "Uma música que consiste em combinar sons" (risos). Acabo imaginando que depois de uma resposta dessas, minha música só pode ser "Música Impopular Brasileira" (risos). Música é música, e eu posso e quero fazer todo o tipo dela. 
É algo curioso como o público no Brasil tem dificuldade de compreender essas "misturas" de habilidades. Dificuldade de compreender um humorista quando faz drama. Um ator dramático fazer humor. Vejo esses exemplos diariamente. Antes de fazer TV, em Curitiba, eu vivia basicamente de música. Era dela que vinha minha principal sobrevivência. Lá, pouquíssimas pessoas me enxergavam como ator. Pra elas eu era um "músico que atuava". Hoje, na TV como ator, percebo que isso mudou drasticamente. A maioria das pessoas que me conheceram através da TV, quando conhecem meu trabalho musical, me consideram um "ator que canta". As coisas se inverteram. Somos sugestionáveis. A TV trouxe a impressão para essas pessoas, que todos os meus discos, shows, trilhas, direções musicais...enfim, aquilo tudo que fiz a minha vida toda, fosse apenas um "passatempo". Que o disco de um artista que toque na rádio, mesmo que com grandes limites técnicos e artísticos, possa ser digno de carregar o título de músico mais do que eu, que pra ele, sou "ator". O que também quer dizer que eu, atuando na TV, serei, para essas mesmas pessoas, um ator, mesmo que isso signifique um ator medíocre. Essas "gavetas" servem apenas para os sindicatos. Se nos colocam nas "gavetas" cabe ao artista sair delas, mesmo sabendo que são quentinhas e acolhedoras (risos). Pra mim o músico, assim como ator, o poeta, ou o que quer eu faça ou deseje fazer, nunca foram pessoas diferentes. Quando atuo penso música, quando canto estou atuando, quando escrevo atuo e canto, enfim, é tudo uma coisa só. Esse "apartheid" nunca foi adotado por mim.



19 - Quem é Alexandre Nero? Quem ele quer ser quando crescer? (risos)

Alexandre Nero sou eu. Eu sou uma contradição (risos). Sou único. Contrariando a máxima, que deve ter sido inventada por alguma multinacional que despreza o afeto e só visa lucro. Para quem me ama eu sou insubstituível sim. É assim que a pessoas que amo são pra mim. Insubstituíveis. Com todos os seus defeitos, e 2 ou 3 qualidades (risos).
Quem eu quero ser quando crescer? Aquele senhor gordo e velho, que não se importa em ser gordo e velho, e que fica sentado numa pracinha gritando com as crianças, passando rasteira nos jovens e jogando conversa dentro.